A raiva quando ela passa
- desenfresca

- 29 de abr. de 2024
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Um belo dia me chegou um comunicado: Giovanna você é rancorosa. Relutei muito com esta notícia, jurei que era uma mentira, até que em um belo dia olhei ao meu redor, respirei fundo, e após uma respiração profunda, aceitei meu destino: eu sou uma pessoa rancorosa.
É provável que esta seja a primeira e última vez que falo algo assim, mas vamos lá.
Eu sou uma pessoa extremamente detalhista, eu vejo e reparo em tudo, me lembro de muita coisa, porém, dizer que lembro-me de tudo seria um tanto quanto mentiroso, mas lembro-me de muito. Há um tempo fui à uma cafeteria e vi uma moça, e lembrei exatamente o que ela havia pedido da outra vez. Então sim, eu tenho uma memória marcante.
De certo modo, a raiva num modo geral faz parte de uma boa parte de mim, e isso falo de algumas situações chaves que já passei na vida, mas a que estou vindo falar sobre é diferente. Guardei muita mágoa por um tempo, essa mágoa se tornou algo parecido à decepção, e daí para frente, foi só para trás. A cada dia a decepção se transformava, até que um dia eu senti muita raiva, tanta raiva que eu nunca senti o que eu senti, me tremi de raiva, e sentia minhas mãos trêmulas, de tanto ódio. Só senti algo pior do que isso quando lembrei de um fato que até hoje é um fato "infalável".
Voltando,
Foram tempos e tempos de muita mágoa, decepção, e rancor. Muito. E não me arrependo, mas digo que é perigosíssimo para a nossa saúde, pois, enquanto eu guardei uma mágoa interminável, a pessoa seguiu sem ao menos lembrar que eu tinha algo para sentir, ou resolver.
Minha mãe me ensinou a ficar calada em alguns momentos como esse, e sinto que isso me fez muito bem, porque às vezes, gritar, berrar e escandalizar depois só nos deixa arrependidos, e digo às vezes, porque em outras, é tudo que a gente precisa.
Num dia super comum tive de provar o sabor do autocontrole, respirando fundo e sorrindo, lidando com o que não achei que ainda queria, ou teria que lidar, e acabei me saindo melhor do que eu imaginava. Só que ao mesmo tempo isso me entregou algo que eu não estava preparada para passar: minha raiva passou, e agora?
Parece um daqueles momentos que você para e pensa que não ensaiou, ou nunca chegou nesta parte do roteiro. E aí? A gente improvisa, chora, grita, ou enlouquece? Acho que tudo junto...
Fui para casa, respirei, e mais uma vez olhei ao meu redor, sinto que é importante fazer isso para me ajudar a me situar do que está acontecendo. Pensando, pensando, e pensando um pouco mais entendi o que estava acontecendo: minha raiva estava passando, e eu não lidei nada bem isso.
Fiz o que qualquer ser humano normal faria, fui atrás de todos os vestígios que pudessem me magoar novamente, porque eu queria sentir todo o ódio que senti um dia, aprendi a viver assim, e acho que a situação, e tudo que eu passei, é completamente compreensível. Eu estava no meu total direito de agir assim, e me sentir assim.
Revisitar essas memórias me trouxe mágoa, e eu entendi que é algo que eu vou sempre ter, porque eu não sou um robô, eu não esqueci, e eu não posso, e nem vou, invalidar o que eu senti e passei, mas ao mesmo tempo é diferente, eu provavelmente não me temeria de ódio ao relembrar das coisas ou da pessoa em questão.
Ao mesmo tempo sinto que jamais me aproximaria, porque tentei uma vez e a pessoa fez questão de ser tenebrosa, então "perdoar", não tem nada a ver com isso, acho que é mais do olhar para trás, respirar, pensar que existiram coisas muito boas, outras piores do que eu conseguiria descrever, mas eu consegui lidar com isso e saí viva, e de forma alguma concordo com as palavras de "fiquei mais forte", porque não é essa minha visão, porque a Giovanna de agora pode até ser mais forte, e não se submeter à muitas coisas, mas a Giovanna de hoje também é uma Giovanna sequelada, desconfiada e muito medrosa, então não, eu não saí mais forte de tudo isso, eu saí diferente.
No mais, o perdão é um termo que não consigo falar sobre ainda, porque perdão para mim é uma coisa muito além de tudo isso que falei, perdão é provavelmente uma coisa que eu talvez ainda não tenha experimentado, mas deve ser um sentimento bom.
Estranho...
Mas me parece uma boa ideia.





A melhor coisa que li na vida.