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O cara do carro vintage #01

  • Foto do escritor: desenfresca
    desenfresca
  • 18 de abr. de 2022
  • 4 min de leitura

Eu estava indo encontrar com a minha mãe em Dublin, em um trem rodeada de pessoas completamente aficionadas em suas tecnologias, e quando ele entrou logo pensei em convidá-lo para sentar comigo. O que claramente não foi uma boa ideia, já que ele preferiu sentar com uma bonitona ao lado.


Ah a pandemia, estavam anunciando que as coisas iriam fechar, então preferi pegar o primeiro trem para outra cidade, para não correr o risco de tudo realmente piorar e precisarmos ficar isolados em algum lugar.


Penso demais, o tempo inteiro. Em alguns momentos sinto que atrapalho os meus próprios pensamentos. Ouso dizer que vivi o momento perfeito após conhecer um completo desconhecido, misterioso e claramente muito bonito. Ele disse que trabalhava com tecnologia, mas tudo que entendi é que ele era um publicitário, indo encontrar o irmão no Sul de Dublin.


Pensei um milhão de vezes em dar meu número, ou oferecer abrigo na casa da minha mãe, mesmo que as coisas por lá fossem meio esquisitas, e sem wi-fi para aliviar os papos poéticos e pinturas inacreditáveis dela. Acabei apenas não fazendo nada, menos um ponto para mim, outra vez por pensar demais.


Descemos na última parada, e a partir dali seguiríamos em direções opostas, literalmente. Esperei que ele quisesse meu número, mas ele, mais uma vez me surpreendeu: me pediu para que o encontrasse dentro de duas semanas, no dia 28 de março. Naquele exato local em que nos separamos. É claro que eu iria, amante do medievalismo como sou, gosto das coisas tradicionais, autênticas! Claro que esse isolamento já teria acabado e eu estaria voltando para a cidade universitária de Galway. Topei, claro! E eu mal podia esperar, mas, duas semanas passariam voando, né?


Quando cheguei em casa, minha mãe me preparou um delicioso chá de maçã enquanto eu tagarelava sobre ele, horas e horas. Parecia realmente muito romântico, diria que até bom demais para ser verdade. Eu gostei mesmo dele, a conexão que tivemos foi inexplicável!


Os dias começaram a passar tão lentamente, e imaginei que 14 dias seriam uma eternidade. Segui a rotina lendo livros e explorando pensamentos. Minha mãe me fez companhia como ninguém, mas realmente, o irmão do Michael seria a melhor das companhias para ela...


O dia 28 de março chegou, a imprensa local anunciava uma extensão do lockdown para mais três semanas, e não poderíamos nos locomover por mais de um raio de dois quilômetros. Eu não quebraria as regras, isso estava restrito, eu não teria como chegar lá. E eu esperei isso: por inacabáveis 14 dias. Mesmo assim, minha mãe Jane apostou com a metade da vizinhança que ele estaria na estação de trem, eu não acho que ele iria, ele não violaria regras por alguém como eu.


Tentei chegar ao local, mas as barreiras sanitárias me impediram e eu tive que retornar para a casa da minha mãe, não sei explicar, mas sinto que foi o caminho mais longo que percorri, e eu estava tão decepcionada... eu poderia ter pedido o número dele, quer dizer, que pessoa em 2020 não pega as redes sociais ou o número de alguém? Isso seria tão básico, e foi tudo culpa minha!


Muitos dias se passaram e não podíamos sequer sair de casa para uma caminhada na rua, e de alguma forma minha mãe soube pelos vizinhos desocupados de que havia um rapaz morando em um carro vintage durante algum tempo. Não era conhecido, e estranhamos que ele estivesse passando uma quarentena dentro de um carro. Minha mãe começou a fantasiar sobre a possibilidade de ser o cara que eu havia conhecido no trem, mas ele não estaria ali nessa situação. Michael estava com o irmão no Sul de Dublin.


Os murmúrios continuaram mais algum dia, minha mãe disse que os vizinhos estavam comentando sobre o rapaz do carro vintage, de que ele estava procurando por alguém. Fiquei curiosa e pensativa, porque a conexão que tivemos foi inexplicável, mas não acredito que ele estaria dormindo em um carro e comendo cupnoodles só para me encontrar. Estaria?


Saí para procurar o tal rapaz, e quando cheguei ao local, apenas algumas quadras de onde eu estava morando, o carro vintage não estava mais no lá. Fiquei decepcionada, confesso, mas de qualquer forma não poderia ser ele, Já havia semanas desde o grande dia do encontro na estação de trem.

Voltei para casa pensando em uma forma para encontrá-lo. Teria que apelar para as redes sociais? Como conseguiria?


De qualquer forma, já se passaram dois anos. Não o encontrei. Sinto que não era para ser, mas de qualquer forma eu queria tanto que fosse... Hoje abri meu coração em um blog para superar algo que achei que poderia ter funcionado, e funcionado bem. As coisas são complicadas


Eu tenho certeza de que ele trabalhava com publicidade. Qual era mesmo o nome da empresa?






Ok, o que vocês leram logo ali em cima é um texto inspirado no terceiro episódio da segunda temporada de Modern Love, "Estranhos em um trem (de Dublin)". O episódio termina com um final aberto, e há alguns meses quando assisti, vi que tinha criatividade para finalizar essa história. Acabei me empolgando e em breve publicarei as outras versões, que são três ao total.

Desde já, recomendo Modern Love para todos que estiverem passando por aqui, já que é uma ótima série e te faz sentir as mais diversas emoções. A série está disponível no catálogo da Amazon Prime :)


 
 
 

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